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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Jornal O Figueirense renega a sua história



Joaquim Gomes D'Almeida fundou, na Figueira da Foz, o jornal O Figueirense, em 19 de Junho de 1919. Jornal este que era composto e publicado na tipografia Peninsular, sua propriedade.

Nada disto será novidade para os figueirenses mais atentos, e que conhecem a história daquele que é, hoje, o mais antigo jornal da cidade.

O que talvez seja novidade é o facto de, no passado ano, o jornal O Figueirense ter decidido ELIMINAR da ficha técnica o nome do seu fundador, substituindo-o, simplesmente, ao fim de quase 90 anos de existência, naquilo que consideramos um total desrespeito à memória de Joaquim Gomes D'Almeida.

Certos de que de um erro se trataria, ou de uma atitude menos informada, fizemos questão de contactar a administração e direcção do jornal, apresentando factos resultantes de pesquisa apurada, de modo a clarificar a possível dúvida que os pudesse ter subitamente atingido.

O nosso gesto foi liminarmente descartado. Como tal, serve este blogue para deixar, à memória futura, os factos e sua consubstanciação, bem como o registo de todas as pesquisas que provam o erro deste Figueirense reinventado, que desmerece todo o trabalho, não só do fundador, mas como de toda a equipa que viveu e testemunhou do seu legado, à época dos factos.

A pesquisa ficará aqui para memória futura.
Os erros, ficarão com quem os pratica.
A cada leitor, ficará o direito de discernir por si.

Os autores

Aníbal José de Matos - jornalista - CPJ 4173
Vera de Sousa e Matos - jornalista - CPJ 5891







O texto que a seguir apresentamos replica o primeiro documento enviado à administração do jornal, no qual se explanam todos os dados necessários a dissipar as dúvidas sobre quem fundou, afinal, O Figueirense.








Joaquim Gomes D’Almeida 
Fundador do jornal O Figueirense




Elementos para a reposição
da verdade dos factos



Não imaginámos, confesse-se, que passados mais de 90 anos do nosso antepassado ter fundado o jornal O Figueirense, e mais de 50 desde o seu falecimento, nos encontrássemos perante a necessidade de fornecer provas para a reposição da verdade dos factos quanto ao legado do fundador do mais antigo jornal da Figueira da Foz, órgão esse ao qual, ao longo dos tempos, estiveram ligadas quatro gerações de jornalistas da nossa família.


Mas, uma vez que o jornal que ele criou agora o renega, recorde-se então:



Joaquim Gomes D’Almeida foi vereador da Câmara Municipal da Figueira da Foz e proprietário da Tipografia Peninsular. Acalentou e trouxe à luz do dia o seu desejo de retornar à prensa o jornal O Figueirense, que tinha visto a sua terceira série usufruir de curta vida, e não sobreviver mais do que uns meses em 1918.

Assim sendo, e uma vez que detinha os meios necessários para o realizar, dado possuir tipografia própria e vasta experiência na área, levou o projecto avante, rodeando-se, para o efeito, de duas ilustres figuras da cidade, mais especificamente José Maria Cardoso e José da Silva Fonseca, seus amigos e companheiros do Grémio Republicano Evolucionista Dr. José Falcão.

O Grémio, saliente-se, viria a agraciar o projecto com o seu total apoio, figurando mesmo, no início, como proprietário do periódico ao adquirir o título, e servindo de estandarte e mote à ideologia que viria a reger a publicação.

Como era, e é, habitual, a denominação “Fundador” não era referida nas publicações assim que elas se iniciavam, pois os seus responsáveis apareciam, sim, designados pelos cargos que efectivamente desenvolviam.

Assim sendo, Joaquim Gomes D’Almeida atribuiu-se o cargo de editor (salientando desde logo e de forma escrita, que todos os assuntos e correspondência deveriam ser dirigidos apenas à sua pessoa), pois tal denominação reservava-se àqueles que reuniam as responsabilidades máximas sobre a edição de cada número, a quem delineava a edição, decidia os layouts, geria o trabalho dos tipógrafos, compunha tipo a tipo, revia as provas e que era, portanto, o autor e responsável pela edição que então chegaria ao público.

Aos seus companheiros, Joaquim Gomes D’Almeida agraciou respeitosamente com o título de directores, nunca estes sendo referidos, no jornal, como fundadores.

Uma vez que a designação “Fundador” surgia normalmente nos jornais apenas após a morte do mesmo, como memorial e homenagem que se pretendiam indeléveis, foi exactamente isso que se verificou n’O Figueirense, pois, se o cargo “Fundador” nunca tinha aparecido na ficha técnica até então, é em 1956, dias após a sua morte, e na primeira edição publicada após o seu falecimento, que passa a figurar, destacadamente, e pela primeira vez, o título “Fundador”, e o seu nome: Joaquim Gomes D’Almeida. De certo que muitas vozes se levantariam se se estivesse a cometer uma injustiça, e tal, obviamente, nunca se verificou.


Atente-se nas seguintes imagens:


Aspecto da primeira página do número 1 de 1919, onde não se menciona, obviamente, a designação “Fundador”.



Aspecto da primeira página do número 3092 de 1956, onde surge pela primeira vez a designação “Fundador”, e o seu nome Joaquim Gomes D’Almeida, como homenagem ao falecido mentor, no dia em que se publica a notícia da sua morte.


Tal prova, sem lugar a dúvidas, que a equipa do jornal sua contemporânea, reconhecia Joaquim Gomes D’Almeida como fundador real, fundador de facto e fundador incontestável, razão pela qual o quiseram homenagear, procurando, assim, que a obra do seu mentor pudesse fugir ao esquecimento, e sobreviver na memória comum dos figueirenses. E conseguiram-no, mas só até 27 de Maio de 2011, data na qual o jornal que do seu labor nasceu, decidiu (de certo baseando-se nalgum relato inexacto), eliminá-lo sub-repticiamente da ficha técnica, (sem qualquer explicação), mesmo após o ter homenageado publicamente, por diversas vezes, ao longo dos anos.


Nas imagens abaixo, demonstra-se a eliminação do nome do fundador, e a sua substituição.
             


Ficha técnica de 20 de Maio de 2011 in http://www.ofigueirense.com/edicao.php?id_edi=233
            

   
Ficha técnica de 27 de Maio de 2011 in http://www.ofigueirense.com/seccao.php?id_edi=234&id_sec=6

Falando de homenagens, recorde-se que a mais recente mostra pública de reconhecimento do jornal em relação ao seu fundador teve lugar em 2006, com a publicação do livro “Primeiras do Figueirense ao Longo dos Anos”, uma edição da empresa hoje proprietária d’O Figueirense, no qual se destaca a figura de Joaquim Gomes D’Almeida, exibindo a foto que, em 2001, foi descerrada na redacção do jornal.

Esse foi outro momento de homenagem à memória e obra de Joaquim Gomes D’Almeida. Sessão essa onde, saliente-se, se encontrava a única pessoa à época viva que poderia atestar da veracidade dos factos, por ter acompanhado de perto a história antiga do jornal: falamos de Aníbal Correia de Matos, sobrinho de Joaquim Gomes D’Almeida e ele próprio antigo proprietário e director d’O Figueirense durante mais de 30 anos, e que na ocasião deu o seu testemunho sobre factos da época e da obra do mentor desta publicação.




           
Descerramento da fotografia do fundador do jornal  



A eliminação do nome de Joaquim Gomes D’Almeida que nos tomou de surpresa (e cujo intuito não conseguimos entender), deturpa uma parte importante da história figueirense, história esta que os dirigentes do jornal, até há bem pouco tempo, exibiam com orgulho, e tomavam como sua e verdadeira.



           



Queremos acreditar que a subtracção do nome do verdadeiro fundador não tenha sido feita de má fé, mas resultado talvez de uma análise superficial e pouco cuidada de retalhos da história figueirense, respigados daqui e dali, e que já foram recebidos por interposta pessoa, e não da boca dos seus intervenientes primeiros. Compreendemos a confusão, o que não compreendemos é a persistência na inverdade após alerta para o facto.

Queremos acreditar que O Figueirense cometeu um erro inocente e ingénuo, mas havendo ainda hoje fontes testemunhais e acervos aos quais recorrer, há erros que não se compreendem à primeira…

Na obra Jornalismo Figueirense, de 1921, da autoria de Cardoso Martha e publicada apenas dois anos depois do início do jornal, o autor registou os fundadores como sendo José Maria Cardoso, José da Silva Fonseca e Joaquim Gomes D’Almeida acrescentando o cargo que cada um ocupava, respectivamente directores e editor. Compreende-se que o autor, olhando para o jovem projecto editorial, e baseando-se na ficha técnica, fizesse esta interpretação.

Acontece é que, inexplicavelmente, (e talvez esteja aqui a raiz da confusão), a compilação de seu título Jornais e Revistas do Concelho da Figueira da Foz, da autoria de Joaquim Sousa e António Reis Caldeira, publicada em 1986, decide eliminar o nome de Joaquim Gomes D’Almeida do cargo de fundador, dando crédito do feito apenas aos então directores. Talvez a frase da obra original em que se basearam fosse confusa, e demasiado difícil de interpretar.

No entanto, chegando a 1995, a obra Figueirenses de Ontem e de Hoje, na sua entrada referente a Joaquim Gomes D’Almeida, é clara em afirmar que este “fundou o jornal O Figueirense”. Então, dados os díspares registos bibliográficos, faria sentido ir ao jornal em si, e ver qual o nome que alguma vez apareceu como “Fundador”, e esse foi sempre, e desde o primeiro momento em que tal designação apareceu, o de Joaquim Gomes D’Almeida.

Para que não resistam dúvidas, deixamos aqui a reprodução do registo do depósito de periódicos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, onde se pode claramente ver a entrada respectiva ao jornal O Figueirense. Na altura, não havia dúvida, e hoje, para quem tem conhecimento de causa, continua a não haver.



Se a incerteza ainda persistir para alguns, veja-se o caso de outro jornal fundado por Joaquim Gomes D’Almeida: falamos da Defesa da Beira, sedeada em Santa Comba Dão, órgão esse que ainda não sentiu necessidade de substituir o seu fundador, mesmo em 2011.
A Defesa da Beira, como qualquer jornal, ao seu nascimento, não ostentava a denominação “Fundador”, apenas passando a fazê-lo após a morte do mesmo, como forma de recordar o seu legado.

Analisemos as imagens:

Aspecto da primeira página do número 1 de 17 de Julho de 1941, onde não se menciona, obviamente, a designação “Fundador”.



Aspecto da primeira página do número 803 de 23 de Dezembro de 1956, onde se menciona, pela primeira vez, a designação “Fundador”, e o seu nome Joaquim Gomes D’Almeida, como homenagem ao falecido mentor, no dia em que se publica a notícia da sua morte.



Mas, caso ainda seja necessário apresentar qualquer outro argumento, atente-se no exemplo de outro jornal local, A Voz da Figueira, cuja referência a um “Fundador”, José Maria Carvalho, apenas surge na folha de face após a morte do mesmo. Ora, os descendentes não parecem, ainda hoje, ter dúvidas quanto a quem merecia tal referência, mas o que é certo é que José Maria Carvalho não foi o primeiro director, tendo esse cargo sido ocupado por Ernesto Tomé.

Atente-se nas seguintes imagens:

Aspecto no número 1 d’A Voz da Figueira onde, obviamente, não aparece a designação “Fundador”




Aspecto do número 1721, de 1986, onde aparece, pela primeira vez, a designação “Fundador”, e o seu nome José Maria de Carvalho, como homenagem ao falecido mentor, na edição publicada após aquela em que foi noticiada a sua morte.

Então em que ficamos? Será que a Voz da Figueira deveria ser alertada por estar a laborar em erro? Ou será que, obviamente, José Maria Carvalho, avô da actual directora, foi reconhecido desde sempre, pela equipa sua contemporânea, como fundador real, fundador de facto e fundador incontestável do jornal, apesar de, aquando do lançamento do jornal, o director ser outro?
Poderia então argumentar-se que o fundador é o proprietário. Então, o fundador do Figueirense seria o Grémio Republicano Evolucionista Dr. José Falcão, e não os primeiros directores do primeiro número, como agora O Figueirense afirma. Só que todos sabemos que quem funda é quem idealiza e faz.
E será que os descendentes directos de Joaquim Gomes D’Almeida não seriam a fonte ideal a quem recorrer para confirmação da veracidade dos factos, quando se decidiu, sem qualquer explicação, remover o nome do fundador e substituí-lo? Não seriam estes os que, por serem mais próximos, poderiam apresentar as provas que agora se revelaram surpreendentemente necessárias para provar a este Figueirense de história reinventada, aquilo que há 90 anos se sabe?
Seriam os parentes difíceis de localizar? Então atente-se na notícia publicada pelo jornal a 9 de Março de 2007, e assinada pelo então director António Jorge Lé, agora afastado da publicação, na qual se relata um contacto com a filha do fundador, esta mais idosa do que o próprio jornal:



Repare-se na frase emblemática de António Jorge Lé, ele próprio um apaixonado estudioso da história figueirense, que aqui afirma claramente: “se não fosse (…) Joaquim Gomes D’Almeida, não havia
jornal!”. Inhttp://www.ofigueirense.com/09marco2007/cronicas/default.htm

Depois do que aqui expomos, é indiscutível que a eliminação do nome de Joaquim Gomes D’Almeida da ficha técnica, (pela primeira vez ao fim de quase seis décadas, se intencional, assume aspectos de acto leviano e inqualificável).

Até compreendíamos que, por cortesia aos primeiros directores, se quisesse acrescentar os nomes destes, (embora o fundador real fosse só um) mas, se tal fosse a vontade e o entender da equipa original do projecto, aquela que tinha verdadeiro conhecimento de causa na primeira pessoa, esta tê-lo-ia feito há 60 anos atrás. O que não se compreende é a ‘simples’ eliminação do nome de Joaquim Gomes D’Almeida.

Esperamos que estas provas, e muitas mais que se poderiam produzir, e que nunca pensámos serem necessárias, cheguem para sossegar os espíritos inquietos e sedentos de ‘verdade’ que deliberaram eliminar o nome do nosso antepassado do jornal que ele fez nascer. Estamos certos de que terá sido um erro ingénuo, desinformado e inocente. O grave é que uma mentira muitas vezes repetida, corre o risco de passar por verdade.

Esperamos agora também, que à ligeireza com que erraram, saibam contrapor a coragem de corrigir publicamente o erro.



Aníbal José de Matos, jornalista (CPJ 4173), sobrinho-neto de Joaquim Gomes D’Almeida
Vera de Sousa e Matos, jornalista (CPJ 5891), sobrinha-bisneta de Joaquim Gomes D’Almeida

Pesquisa bibliográfica:
Jornalismo Figueirense, Martha,Cardoso -1921
Jornais e Revistas do Concelho da Figueira da Foz, Sousa J. e Caldeira, A. Reis - 1986
Figueirenses de Ontem e de Hoje, Costa, F.Caniceiro - 1995
Primeiras de O Figueirense ao longo dos anos, O Figueirense - 2006
Números diversos do jornal O Figueirense, em formato impresso e digital, desde a sua fundação até à presente data
Números diversos do jornal A Voz da Figueira, em formato impresso e digital, desde a sua fundação até à presente data

Figueira da Foz, 27 de Setembro de 2011





Na sequência desta comunicação, nada se alterou, e recebemos um e-mail da administração, que afirmava estarem as pesquisas do jornal em contradição com as nossas. Curiosamente, O Figueirense, um órgão de comunicação que deveria saber, melhor do que ninguém, que todas as fontes devem ser tidas em conta, e não só aquelas que favorecem as teses que o autor pretende defender, deciciu basear-se apenas num livro publicado décadas depois da fundação do jornal, e descartar outras mais próximas à realizade dos factos, e fidedignas.

O texto que se segue, é a súmula da resposta que enviámos, e que foi a nossa última comunicação sobre este assunto. Consideramos que está tudo dito, e que quem quer perpetuar, agora, esta nova versão dos factos, lá terá as suas razões para se reinventar, mesmo que tal constitua uma grande pancada na história local...

Obviamente que, por respeito à privacidade do nosso interlocutor, o e-mail que nos foi enviado e que suscitou esta resposta, não será publicado aqui, ou em qualquer outro local. A nossa resposta contém citações, que decidimos manter por considerarmos não terem qualquer cariz pessoal, e por serem essenciais ao claro entendimento do texto.




O texto que se segue é a reprodução do segundo (e último) documento enviado à administração do jornal, onde deixamos bem claras as peças principais da nossa pesquisa, e para o qual nunca obtivemos resposta.




(...)
Não vale a pena repisar tudo aquilo que já trouxemos ao seu conhecimento, mas, se me permite pegar nas suas palavras, havendo “a preocupação do respeito pelo rigor histórico, com base em documentos, autónomos, independentes, insuspeitos”, e uma vez que “as grandes fontes de informação continuam a ser as escritas, antigas, nunca questionadas por nada nem por ninguém” e que “o respeito pelo rigor histórico não é igual pelo desrespeito a quem quer que seja, ao invés, é respeito, exactamente, pela memória de todos, sem excepção”, então não se compreende porque é que apenas uma obra foi analisada e os seus registos tidos como inatacáveis, obra esta escrita quase três décadas depois da fundação do jornal.

Causa-me muita estranheza que a “Edição Actualizada e Ampliada de "Jornais e Revistas do Distrito de Coimbra" tenha sido “o elemento objectivo fundamental, que terá estado na base da evolução”, e que nenhuma outra das obras que estão ao dispor do público, e que se lhe contrapõem entrem sequer em discussão.

Se “esta Obra tida como decisiva e única sobre a História do Jornalismo no Distrito de Coimbra (…) não corrobora nos factos” aquilo que invocámos, outras há que o atestam, e que foram escritas bem mais perto da data de fundação do jornal, sendo, portanto, mais antigas. E mais lamentável é que o vosso maior recurso (o próprio jornal e quem nele escrevia à data dos factos) não vos mereça credibilidade suficiente.

E se no caso de jornais como aquele que cita, o de Figueira-Sport: “a verdade a que temos direito é a mentira que o Jornal assumiu”, então não se compreende porque é que O Figueirense não aceita, agora, aquilo que ele próprio sempre “assumiu” como verdade.

Apraz-me que defenda a importância de dar “prioridade máxima” a “documentos escritos inquestionáveis”, de modo a assegurar a “fiabilidade das informações”, e que considere que “ninguém poderá ousar admitir que terá força para contrariar a universalidade e intemporalidade de tal princípio”.
Realmente, nunca se ousaria tal. E por isso mesmo, há que recordar obras como “Publicações Periódicas Portuguesas Existentes na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra”, a qual corrobora a nossa afirmação de ser Joaquim Gomes D’Almeida o fundador do Jornal O Figueirense. A este registo escrito não se poderá, de certo, rotular de menos “inquestionável”.

Saliente-se que “Publicações Periódicas Portuguesas Existentes na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra”, uma obra que abrange os títulos publicados em Portugal entre 1911-1926 e assinada por José M. Mota de Sousa e Lúcia Mariano Veloso, na sua entrada 1398, página 240, informa que o jornal O Figueirense foi fundado por Joaquim Gomes D’Almeida, e na página 585, este é ainda citado no Índice de Responsáveis e Principais Colaboradores das publicações descritas.

Neste livro, editado pela biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, instituição que, de certo, baseia as suas pesquisas na “preocupação do respeito pelo rigor histórico, com base em documentos, autónomos, independentes, insuspeitos”, os autores afirmam ser sua intenção “elaborar um instrumento de trabalho que permita aos investigadores uma maior facilidade não só no acesso aos títulos existentes, como no aprofundamento do estudo da imprensa periódica portuguesa”.

Assim sendo, de certo não será difícil de compreender que não existe apenas uma, mas várias obras que terão de ser vistas como “decisiva[s] e única[s] sobre a História do Jornalismo”, e que não existe apenas um, mas vários, “documentos escritos inquestionáveis”.

A nossa afirmação é igualmente sustentada por um livro mais antigo, “Jornalismo Figueirense”, de 1921, da autoria de Manuel Cardoso Martha, publicado apenas dois anos depois da fundação do jornal, e no qual nos baseámos e baseamos para lhe atestar da veracidade daquilo que o próprio jornal afirmava desde sempre.
É bom lembrar que Cardoso Martha foi um dos fundadores do Grémio proprietário d’O Figueirense e que, como tal, possuía posição privilegiada para falar da realidade do jornal na primeira pessoa….haverá fonte mais “inquestionável”?

Como tal, não se entende como se pode atribuir mais credibilidade a uma obra escrita em 1947 (quase 30 anos depois da fundação do jornal) por um funcionário da Biblioteca de Coimbra, do que ao livro da autoria do escritor e jornalista figueirense Manuel Cardoso Martha, escrito em 1921 (apenas dois anos após a criação do jornal) e no qual o autor menciona claramente Joaquim Gomes D’Almeida como fundador do jornal.

Uma adulteração em 2011, como a que fez O Figueirense, faz-nos pensar: Será que algum autor que se baseou apenas na obra a que o senhor se refere como “inquestionável” sentirá agora necessidade de se justificar por estar a perpetuar um erro, erro esse causado por não ter consultado obras prévias e contraditórias ao que afirma?

Será que algum autor induzido em erro pela obra na qual O Figueirense baseia agora todo o seu argumento, não beneficiaria de ler o livro “Jornalismo Figueirense”, de 1921, da autoria de Cardoso Martha? É que esta, sendo prévia, estava bem mais perto da fonte original…

Ou então, se a obra mais antiga não merece credibilidade, se calhar, quanto mais recente o registo, mais “inquestionável”… muito bem, então volte-se a atentar no livro “Publicações Periódicas Portuguesas Existentes na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra”, de 1991, a qual não tem dúvidas em atribuir a fundação do jornal a Joaquim Gomes D’Almeida (e esta obra nunca foi “questionada por nada nem por ninguém”).

É que “se hoje se pedir a um estudante que faça a arqueologia do jornalismo” figueirense, e este tiver acesso a todas as fontes a que aludimos atempadamente, de certo terá de tirar teimas na origem: no próprio jornal, e em quem este afirmou ter como fundador à época dos factos. E o facto é este: Nunca, em tempo algum, surgiu n’O Figueirense outro nome que não o de Joaquim Gomes D’Almeida como fundador, até o terem mudado em Maio deste ano.

Assim sendo, se dúvidas persistirem após análise cuidada e isenta de todos os livros escritos sobre o assunto, a fonte primeira, e aquela a quem se deve dirigir sempre quem elabora pesquisas com seriedade, é o objecto de estudo em questão, ou seja, o próprio jornal, e aquilo que nele se registou aquando dos acontecimentos.

Posto isto, tenho a certeza que o senhor fará a gentileza, a seu tempo, de se debruçar cuidadosamente sobre as obras e factos que aqui referimos (tenho muito gosto em lhas facultar pessoalmente para sua pesquisa própria) e que, como pessoa de cultura que é, não tardará em ver as brechas no raciocínio que alguém lhe quer apresentar como inquestionável.

É que não se entende a súbita defesa desta reinvenção da história do jornal, mas entende-se claramente que reside em si, (e na integridade que lhe reconheço) a única força capaz de repor a verdade dos factos. E é por isso que a si me dirijo.

Quem lhe mostrou a obra em que baseia os seus argumentos, induziu-o em erro ao não lhe mostrar todas as outras que a contrapõem, e isso é uma estratégia clara de lhe impor uma verdade, na convicção de que não teria argumentos para a contrariar. Tenho esperança de que, com tempo, lhe reconheçam a si (como eu lhe reconheço) a autoridade de os corrigir, e que tenham a humildade de permitir a sua intervenção.

No jornalismo, há uma regra de ouro: quando em dúvida, ir à fonte. Por isso, reiteramos: havendo registos bibliográficos díspares e contraditórios, têm à vossa disposição a fonte primeira: o vosso Jornal e o registo escrito pela própria equipa que o criou, e que nunca teve dúvidas em afirmar quem foi o fundador do projecto.



Resumindo


- A obra mais antiga disponível para consulta data de 1921 (dois anos apenas após a fundação do jornal), dedica-se exclusivamente ao jornalismo figueirense, e foi escrita na Figueira da Foz por um dos fundadores do Grémio proprietário do jornal. Nela, o autor atesta ser Joaquim Gomes D’Almeida fundador do jornal, (embora também considere que os dois primeiros directores partilharam desse título, interpretação essa que se compreende);

- A obra em que assenta a actual adulteração tem quase trinta anos de distância em relação aos factos (1947), foi compilada por um funcionário da biblioteca de Coimbra, e não refere qualquer contacto com o jornal como fonte da informação obtida;

- Em 1991, a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra lança obra de referência na qual se afirma ser Joaquim Gomes D’Almeida o fundador d’O Figueirense;

- O jornal O Figueirense regista desde o primeiro número o nome de Joaquim Gomes D’Almeida, e só a ele como fundador, na edição imediata à sua morte e desde sempre a partir daí;

- Qualquer investigador sério e de boa fé não pode fechar os olhos a todos os registos disponíveis, não pode escolher só aquele cuja versão preferir, e muito menos ignorar o que foi produzido mais perto da data a que os factos remontam, e por um dos fundadores do órgão proprietário da publicação. Principalmente, não pode deixar de procurar na fonte (quando esta ainda está disponível) a confirmação do que defende uma ou outra obra. Só assim, munido de todos os factos, pode avaliar da veracidade dos relatos em que se baseia, e reproduzi-los de consciência tranquila para memória futura.


Quando tudo isto não servir para dar alento a um esforço de correcção do erro, temo que nada o fará, e estará O Figueirense (sobejamente alertado) a insistir num erro para memória futura, talvez liderado por alguém que errou ao não se basear em publicações mais antigas e inquestionáveis.
(...)

Até hoje, não obtivemos qualquer resposta a este documento e a deturpação da memória continua a decorrer na ficha técnica d'O Figueirense.